“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

domingo, 14 de novembro de 2010

O forno do povo

O forno do concelho, como muita gente lhe chama . Era um importante símbolo em cada aldeia, dada a sua localização estratégica, (normalmente no centro do povo) um lugar onde todos estavam em situação de igualdade-um sitio neutro . Já albergou, em muitas noites, mendigos, ciganos, ou simplesmente caminhantes . Todos eram convidados e não havia excepção .
Acredito, que muitas estórias aí se contavam ao aconchego do calor das brasas, nas gélidas noites de Inverno . O forno do povo já cozeu pão para muitos fidalgos, pois as famílias eram mais numerosas que hoje em dia . A sua utilização era rotativa; marcava-se a vez na noite anterior, ou no próprio dia de manhã bem cedinho (por vezes, alguns dias de antecedência) -punha-se um guiço espetado numa fenda da porta do forno, onde se enforna o pão .

Duas fidalgas genuínas acabando de tirar o pão, cozido em forno próprio .

Há muito que a sua procura, quer para cozer pão, quer para fazer assados, tem vindo a diminuir . Actualmente, poucos são os que o utilizam, penso até que ninguém, pois quase todos possuem forno particular por não se tornar tão dispendioso como o do concelho .

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...mas não mudamos o nosso rico e saboroso pão !

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