“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Fontes

Embora um pouco esquecidas, as Fontes de Mergulho continuam presentes e às vistas de quem as quer ver. Na verdade são  uma prova e um símbolo da nossa cultura, das nossas gentes e da nossa identidade.
Ainda hoje, todas as cinco existentes na aldeia se encontram cheias de água. A vegetação espontânea, as teias de aranha e algum lixo no interior são sinais evidentes de pouca atenção. Não só o que é moderno é melhor ou mais bonito.
No bairro da fontela existiu, até à então requalificação da estrada que liga Paradela-Casas de Monforte, a suposta fontela. Creio que a estrada esteja a uma quota mais alta a esta suposta nascente de água que existiu na borda do caminho.
 É fácil perceber as origens pelo qual este nome está associado ao bairro. 
Muitas das vezes eram o único local de abastecimento de água das aldeias e cidades, algumas de belíssimas construções em pedra. As fontes relembram histórias marcadas pelo lavar das roupas, pelo beber da água, encontros, conversas e namoros apaixonados.
Actualmente, embelezam cidades e aldeias, por isso, devem ser recordadas e preservadas.

1 comentário:

Óscar Santos disse...

Ora aqui está um artigo muito interessante, mais um, reportado pelo meu amigo Paulo, Fontes de VIDA que guardam memórias de outrora, agora esquecidas talvez por culpa da não necessidade de as usar, pois se tivesse-mos de as usar, certamente estariam mais limpas!Esquecidas ou recordadas por muitos de nós, a mim trazem-me algumas memórias à lembrança, que aqui faço questão de descrever:
- Foi uma má lembrança da F. D. Henrique, com idade de criança 2/3 anos quando morava na casa que atualmente é da Iria, brincava eu com a Zélia do Octávio, tendo ficado ao cuidado dela, pois a minha mãe estava no tanque público a lavar os meus coeiros.. quando a minha curiosidade de ver a fonte mais de perto, tão perto da água límpida e fria, vendo-se perfeitamente o leito da fonte, que sem saber como, caí e fiquei depositado no fundo, por sorte do destino, passava na rua o Ilídio, que com os gritos da Zélia se inteirou do que acontecera e me salvou/retirou do fundo da fonte! A ele devo a sorte de cá estar, obrigado mais uma vez.
Foi realmente uma fonte de mergulho.. mas o seu uso era mais exclusivamente doméstico.