“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

domingo, 30 de maio de 2010

"De volta ao torneiro"

Desta vez saí de casa de bicicleta, tendo em mente como objectivo alguns locais meus conhecidos . Dirigi-me para o torneiro . Desde a minha última visita a este local, a paisagem mudou um pouco, há novas cores e novos cheiros .

"Bonita silhueta das giestas que se curvam à minha passagem !"
É um perder de vista, a imensa cor amarela que cobre a maior parte do mato . Alguma desta área é da mais agreste que se pode imaginar ! A vegetação rasteira constituída essencialmente por giestas, estevas, carqueja e urzes engole-nos, não nos deixando ver por onde pisamos .

Tive que deixar a bicicleta bem perto do colossal fragão do torneiro, seguindo a pé em direcção ao cachão .

Se optarmos pela travessia de alguns lameiros, há outra complicação ! Os fenos já estão bastante altos, deixando-nos as calças verdes e as meias cheias de fura-sacos .

Convém não esquecer para quem vem para estes lados, como para outros, de avisar alguém sobre o nosso eventual paradeiro, ou de nos fazermos acompanhar do "indispensável" telefone móvel, dado o facto de ser pouco frequente em encontrarmos vivalma nestes lugares, principalmente em horas de sesta ...
No cachão, o reflexo do sol e o murmúrio da água que parece cantar melodias, da-nos uma sensação de bem-estar .
No entanto, já de regresso, chegando ao caminho, fiz uma pequena pausa para fotografar esta giesta, quando de repente... ouço passos de alguém vindo na minha direcção do outro lado da curva . Era um fidalgo ! Ficou bastante surpreendido com a minha presença, eu nem por isso, já que ele possuí ali propriedades, tendo lhe dito posteriormente a que se devia o facto de eu andar por ali .
Depois de uma breve troca de palavras, fez questão de me mostrar as ruínas de um velho moinho nas proximidades . Desconhecendo totalmente da sua existência, também é propriedade sua .
Por entre as giestas altas, conduziu-me até ao local e, surgindo do nada, numa clareira avista-se as ruínas do moinho . Em tempos passados foram mós que labutavam para saciar, de certa forma, a fome aos nossos vizinhos de Casas de Monforte . Posteriormente, já inactivo, foi adquirida esta propriedade por este nosso fidalgo .

Com as suas paredes ainda em pé e metade do telhado, vai servindo como abrigo a alguns pastores que por ali andem . No seu interior encontramos apenas uns velhos aros de pipa, servindo de referência a uns vestígios dos antigos cestos vindimos, que em tempos foram úteis, serviam para transportar todo o tipo de bens relacionados com a lavoura, mais tarde a que surgiram os simples sacos .

A trave principal que sustem parte do telhado é de pinho, ainda se mantém em pé, pois quando se deu o corte da árvore, esta já se encontrava seca, devido a um raio que a atingiu ! Não sei se por essa causa, o carucho não afectou a referida trave .
Findo este passeio, própriamente dito, já era um pouco tarde quando regressei a casa . Quando demoro muito a fazer poucos quilómetros é bom sinal, é porque foi interessante .

3 comentários:

Joaquim Carvalho disse...

Parabéns Paulo. Excelente reportagem e lindas fotos.

Helena Teixeira disse...

Olá!
Muito bonito o passeio.
Cheira a Verão :)

Já viu o novo visual do blog da Aldeia?
E também temos um site interessante: www.olhodeturista.pt

Jocas gordas
Lena

Unknown disse...

Ola a todos os fidalgos, nao posso deixar de mais uma ves agradecer ao Paulo, por todas estas belissimas reportagens, as fotos quase parecem postais de lugares tropicais onde todos nos sonhamos estar, e quanto ao que escreveste senti um pouco o cheiro das flores dos campos como se la estivesse tambem.
bravo! um abraço desta ves de bem longe.....
Ana