“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

domingo, 10 de outubro de 2010

Um passeio à tardinha

Fazia tempo que eu não ia até ao moinho do torneiro, queria ver o sr António e a sua mulher . Deixei o carro junto à ponte do regueirinho, seguindo a pé até ao moinho . Desde há um tempo que as minhas visitas a este sitio tem sido frequentes, mas, ultimamente não tenho tido grande tempo . É com muito gosto que ouço atenciosamente as inúmeras histórias interessantes que o sr António(moleiro) me conta . Ao pé do moinho tudo parecia estar calmo, onde o silêncio era rasgado pelo latido daquele que guarda o seu território . Chinó, é esse o seu nome . Palpitei que não estaria ninguém, ainda chamei, mas sem resposta . Sem me aproximar muito do cão, optei por mudar de direcção . Afinal, ainda era cedo e não queria ir já para casa .

Este passeio não se baseava só a uma visita aos moleiros, levava também a ambição de conseguir fotografar uma pequena flor, é uma flor comum nesta época e é de uma cor lilar . O seu nome é açafrão . É nos meses de Outono que esta espécie pode ser encontrada na beira dos caminhos, nos lameiros e até no mato . Desde logo me apercebi que não seria nesta área que haveria de conseguir fotografar a crocus sativus, é esse o seu nome científico . Mais tarde lembrei-me de um lugar onde a avistara há cerca de um ano atrás . Pensei que a tarde não tinha sido a mais adequada para os meus propósitos ! Afinal, da flor nem sinal e os moleiros parece que lhe tinham seguido o rasto . Fica para uma próxima vez .
Porém, nem tudo é em vão, as caminhadas fazem-nos bem, são saudáveis, exercitamos as pernas e respira-se ar limpo . Depois das primeiras chuvas de Outono é mais fácil circular pelos caminhos, o pó assentou e não se corre o risco de ser atropelado para quem caminha na beira das estradas . É uma terapia aconselhável, sem preocupações e que muitos deviam praticar .
Para trás deixei o moinho, segui durante 3 minutos por um carreiro, onde as estevas quase me impediam de prosseguir o trajecto, no qual me levou de volta ao caminho que vai dar aos fragões do torneiro . O cheiro deste arbusto é muito intenso mas não desagradável, pelo menos para mim .
Fazer estes passeios na companhia de alguém não é mau, mas, fazê-los sozinho, também não o é, escolhemos egoísticamente o percurso que devemos tomar sem que ninguém nos contrarie . O resultado desta opção levou-me a que avistasse um rebanho de ovelhas em que realçava num contraste com a vegetação envolvente . É muito frequente encontrar pastores pelo termo da aldeia .

O sr Octávio, na sua lida habitual, guardava o rebanho com o auxílio dos seus cães obedientes . Já não é a primeira vez que me aproximo de pastores, pois o receio aos cães sempre me acompanhou, mesmo com os próprios donos por perto . É quase impossível aproximarmos-nos sem sermos detectados por estes animais . Estivemos a falar cerca de uma hora, onde os temas de conversa foram dos mais variados, entre eles a crise, de que tanto se tem ouvido falar . O sr Octávio quis mostrar-me um cordeirinho que acabara de nascer há um par de horas . Era impressionante, em tão poucas horas e este já se mantinha em pé !

O tempo passava rápido e a hora de regressar a casa já vinha perto. Eu tomei o meu rumo de regresso, o sr Octávio, na frente do seu rebanho, ía subindo a encosta em busca de outras pastagens . Afinal de contas, a tarde não foi assim tão má, apesar de não ter encontrado quem e o que procurava !

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