“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

IGUARIAS da ÉPOCA

Em muitas casas fidalgas, senão na maior parte delas, ainda se engorda o porco, outrora o sustento anual de uma casa nas numerosas famílias que aqui existiam e ainda subsistem, antigamente sustentava-se durante um ano inteiro, para nesta altura o(s) matar. Nos tempos que correm as famílias são em geral bem menos numerosas, mas, apesar disso, continuam-se a manter as tradições, em menor número diga-se, mas permanecem felizmente, apesar do resultado da matança do porco deixar de ser o de alimentar uma “casa” como dantes, para se tornar numa produção de iguarias, alheiras, linguiças, salpicões, os presuntos, etc., para comer em ocasiões mais especiais!

Num destes dias passei numa humilde e bondosa casa fidalga de visita, e lá fui encontrar uma imagem tão bem nossa conhecida, a respectiva “fuga de secagem” com o tradicional fumeiro em fase final de seca, pois a matança do porco havia sido umas semanas antes, tendo sido convidado pelos ilustres moradores a provar essas iguarias, bem, o que posso dizer é que, quer as alheiras ou as linguiças, cortadas da “fuga” para as brasas da lareira, assadinhas, junto ao pote que na ocasião se encontrava na lareira, acompanhadas com pão caseiro, não podia ser outro, e um copo de vinho branco da ultima colheita, aberto da pipa para a ocasião, foi uma merenda sublime em tarde amena de inverno!!

Deixo aqui os meus agradecimentos a tão nobre família, um bem aja e aqui fica a respectiva foto das iguarias! E claro, o desejo de que se mantenham e perdurem as nossas tradições.


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