“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval 2012

Tinha tocado o telemóvel quando acabava de chegar à aldeia, era a rapaziada encarregue da roubada dos burros, pois querem as suas fotos pessoais e, claro, para fazer o registo da nossa tradição fidalga. Em Paradela, apesar de haver alguns cavalos ou éguas para ir roubar, resta bem pouco de animais da espécie asinina havendo unicamente um ! Por esse motivo e pelo seu conhecimento em Casas de Monforte, o Bino também é fidalgo que se preze em não deixar morrer a tradição, pois correr o Home e a mulher de madrugada com a comitiva de burros montados tem vindo a ser o mais simbólico nesta data. Já no que toca a caretos, diria que que esta parte se tem vindo a desvanecer, acabando com aquilo que os nossos antepassados nos deixaram.
Camuflados e escudados pela noite numa caminhada que foi um pouco penosa devido às pedras soltas dos caminhos e as silvas que teimavam em nos agarrar, lá fomos então roubar os burros.
As duas éguas e os burros permaneceram em locais distintos, abrigados do relento da noite, pelo que concordei plenamente. Os animais e seus donos também penso que serão da mesma opinião.
Nesta foto de grupo vê-se o Bino que iria liderar a tal caminhada, e confesso que percorri caminhos totalmente desconhecidos, aliás, como a maioria dos intervenientes!
Ainda durante a noite, pelos vistos, houve fidalgos que não resistiram ao impiedoso sono e a cama acabaria por ser descanso até horas de almoço, deixando de lado o principal objectivo, correr o home.
Por volta das oito e trinta, ainda os rapazes não tinham conseguido chegar ao sítio de partida, local onde o Home e a Mulher aguardavam ansiosos e desesperados pela comitiva que nunca mais chegava, pois ia-se fazendo tarde . Fazer com que os burros andassem não foi tarefa fácil !
E mal eram montados, há pernas(patas) para que vos quero, acrescia-se outro problema !
Por fim e todos juntos, deu-se início á marcha acelerada, descendo o povoação na correria da charrete, transportando o casal mais perfeito.
E todos os que participam nesta caravana berram: Óh Hoooooooooooome!!! - Eu acrescento: Deixaste morrer a tua mulher à foooome! Mata uma pita haber sindá come !
As pessoas vem à rua ver o casal entrudo passar, outras, além de mim, aproveitam e tiram umas fotos; significa que tem todo o gosto em que a tradição se mantenha.
Na parte da tarde as brincadeiras pareciam ficar por ali, não deixando de se ver bonitos disfarces, alguns não davam sequer para as pessoas ser reconhecidas !
A cinza também faz parte das brincadeiras, mas esta parecia-me não ter formigas.
O largo da bandeira também foi palco de uma equipa feminina de futebol com treinador, representada pelos Fidalgos de Paradela, e até confesso que fiquei surpreso com os dotes futebolísticos de algumas jogadoras! Quero então louvar ou aplaudir esta equipa, onde alguns membros tem vindo , nos últimos anos, a participar no Carnaval da aldeia com as suas criativas e engenhocas brincadeiras. Este ano dei pela falta de alguns fidalgos que costumam expor a sua criatividade neste tema carnavalesco.
Fiz um pequeno vídeo deste dia, mas ainda irei tratar da sua edição para depois mostrar.
Caretos já não há, madoutchas também não, há que deitar cedo, felizmente amanhã é dia de trabalho.
E já agora.... cinza pró da máquina fotográfica !

5 comentários:

Anónimo disse...

EMIDIO. imagino esa noite de caminhada,ir a casas pelos caminhos antigos nao seria façil. devieis de parecer contrabamdistas . pena ke nao tenha avido os famosos caretos

Anónimo disse...

Não houve caretos?????????

Óscar Santos disse...

Olá a todos! Que pena tenho eu de, nestes últimos anos não poder participar no Carnaval da aldeia, eu que tanto gostava de participar nas aventuras do intrudo.. Naquele tempo em que "assaltava" uma vinha para arranjar arame para o carapuço, o qual demorava cerca de um mês a ficar pronto para sair de careto!! Saudades dessas aventuras noturnas na roubada dos burros e o ponto alto da festa a saída de careto vestido com aqueles calções rendados, o toque das campainhas, todos em fila com aquelas fitas rendadas a cair pelas costas, todos em fila, sem dúvida uma bela coreografia!!

Paulo Ferreira disse...

3 ou 4 rapazes novatos ainda puzeram "carapuzos", uma máscara, um chicote e tá feito ! É claro que os caretos já não são aqueles que o Óscar referiu no comentário, os de hà uns anos atrás, caretos que vestiam o uniforme completo e que metiam respeito.
É pena que estes caretos acabem!

Anónimo disse...

Parabens bino pela tua dedicaçao de acordar toda a gente de uma forma diferente.. parabens tambem aos outros colaboradores