Esta noticia, penso que já é um pouco  "velha", mas, cá vái...
 Apesar de ainda ter os seus caminhos  em terra batida, o bairro do Rajado é um bairro da cidade de Chaves. Mas a sua  proximidade do centro urbano não impede que os lobos ali ataquem os animais. Ou  mesmo as pessoas. Foi o que aconteceu no passado sábado. O dia já clareava,  embora ainda não fossem as seis. A família de António Rodrigues tinha madrugado  e preparava-se para partir de fim de semana, rumo à aldeia. Subitamente, no  quintal da casa, uma das suas filhas gritou: "Anda ali uma raposa!". "Mas não  era nada uma raposa", contou depois o senhor António, que, do cimo dos seus 74  anos, bem sabe distinguir o que é raposa e o que é lobo. "Era um lobo e já não  era menor, pois tinha muita prática de vida", garante, ele que, no seu tempo,  chegou a ver sete juntos, lá no termo, nas proximidades das leiras que tem em  Paradela de Monforte. Tinha a fera acabado com a vida de uma mansa cordeira que  pernoitava fora, embora apenas protegida por uma cerca de arame, já que o cão da  casa só se enfurece e ladra na presença de gatos. Às primeiras dentadas  desmembrou o lobo logo uma das patas dianteiras da ovelha. E estava a comê-la  quando foi interrompida pelo grito de alarme e susto da filha do senhor António.  Enquanto, resoluto, foi o da casa deitar mão a um sacho com que, de uma  assentada, acabaria com o bicho intruso, a sua mulher, Lurinda da Encarnação,  foi diante e abriu a cancela da cerca, que, fechada como estava, sempre  atrapalharia a incursão rápida que o marido lhe anunciara. Mas, antes mesmo de  se sentir acossado pelo sacho que lhe viria destinado, avançou o lobo em  direcção à cancela aberta. Apesar dos seus 72 anos já feitos, quis a dona  Lurinda, com apenas o seu delgado e frágil corpo, impedir-lhe a fuga. Ou não  fugiu ela a tempo de evitar a investida que viria a sofrer. "Deu-lhe uma dentada  assim na barriga, salvo seja, e fez-lhe dois golpes com os dentes. Valeu-lhe a  grossura da roupa, senão era pior", relata o senhor António. Mas a investida do  lobo causou, também, danos colaterais, neste caso na mesma vítima. "Conforme se  atirou a ela, meteu-lhe uma pata na parte, salvo seja, e fez-lhe uma grande  pisadura. E, coitada, ao cair ainda fez um golpe no papo". Já não foi necessária  a sachola. O urgente, agora, era acudir à mulher. Até porque o lobo deu meia  volta, pulou a cerca e desapareceu. Recompostos todos  e depois de se  certificarem que os ferimentos da dona Lurinda não eram muito graves   lembrou-se a família então de ir conferir os danos sofridos pela cordeira. Mas  esta já jazia. A pata direita, desmembrada, estava a metro e meio de distância e  boa parte do pescoço e do peito mais distantes ainda, já em provável processo de  digestão. "Sangrou-a como a um cristão", descreve o senhor António,  referindo-se, não sem pena e afecto, à sua cordeira, que, em termos meramente  mercantis, avaliou em 13 contos. A cordeira do senhor António era única da  espécie lá em casa. Aliás, a última de quatro que ali chegaram a conviver. A  primeira foi para a comunhão do neto. Com outras duas, à uma, festejaram António  e Lurinda as suas Bodas de Ouro. Engordavam esta para a próxima festa que  marcassem, o que em nada diminuía o afecto da família pelo animal. Ou, se não  era afecto o sentimento revelado, seria o de pena por antes deles se ter nela  banqueteado o maldito lobo. O que é certo é que, perante a cordeira morta e  destroçada na lameira da sua casa, o senhor António não parava de praguejar  contra os lobos e "esses de agora" que os protegem e até os soltam por esses  montes, "para andarem por aí nestes trabalhos". "Dizem que é proibido matá-los?  Pois se o apanhasse arreava-lhe uma sacholada que o matava na hora. E fosse à  frente de quem fosse..." O senhor António não sabia que, a comprovar-se que a  sua cordeira tinha mesmo sido atacada por um lobo, há serviços estatais que o  indemnizam por todos prejuízos sofridos.
in Diário de Trás-os-Montes
in Diário de Trás-os-Montes
1 comentário:
Está demais!!!
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