“Eu amo Trás-os-Montes naquele silêncio das florestas e das estradas afastadas que aguardam ora a neve, ora o pavor do Verão. Amo-o ainda mais quando vejo a cor da terra e a sombra dos seus castelos em ruínas, quando suspeito o fundo dos rios, os recantos junto dos açudes e a altura das árvores. E perco-me desse mal de paixão, quando, de longe, Trás-os-Montes se assemelha vagamente a uma terra prometida aos seus filhos mais distantes, ou mais expulsos, ou mais ignorados, ou mais mortos apenas. E amam-se aquelas árvores porque vêm do interior da terra, justamente, sem invocar a sua antiguidade ou a sua grandiosidade. Ama-se o frio, até, o esplendor das geadas sobre os lameiros, o sabor da comida que nunca perdeu a intensidade nem a razão. E amam-se os rios, os areais, os poços das hortas, as cancelas de madeira que vão perdendo a cor, e talvez se amem o fogo das lareiras, os ramos mais altos dos freixos e das cerejeiras, os jardins abonecados das suas cidades, o granito das casas, o cheiro das aldeias onde ao fim da tarde se chama paz ao silêncio e se dá nome de chuva à água do céu.”
Francisco José Viegas

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A barbearia ambulante

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Reportagem hoje no Telejornal - RTP 1



O Fidalgo Manuel Santos, 52 anos, é barbeiro há 11 anos, mas não numa típica barbearia. Transformou uma carrinha comercial num verdadeiro salão de cabeleireiro e percorre, diariamente, aldeias de Chaves e da Galiza a cortar cabelos. Ex-emigrante na Suíça, Manuel Santos tem, para além da barbearia ambulante, um salão de cabeleireiro, em Chaves, mas nunca "por lá para" porque anda, diariamente, de aldeia em aldeia com o "negócio às costas". Quem toma conta do salão é a esposa, cabeleireira de profissão. Manuel Santos corta cabelos dos 8 aos 80 anos, a homens e mulheres e, até, carecas, disse em tom de brincadeira. O preço, esse, é sempre o mesmo: cinco euros. Na Suíça, onde viveu durante 14 anos, o barbeiro trabalhava na construção civil, mas nos tempos livres fazia o "gosto à tesoura" e cortava, de graça, o cabelo aos amigos. "Em tom de brincadeira dizia-lhes: quando regressar a Portugal vou ser barbeiro, mas ambulante. És doido, respondiam-me eles", contou à Lusa Manuel Santos. Dito e feito. A brincadeira tornou-se realidade. Regressado a Portugal, Manuel Santos, conhecido por "quatro rodas", comprou uma carrinha comercial e transformou-a numa barbearia onde nada falta. Bem, por vezes, só mesmo a água quente. A barbearia ambulante tem uma sala de espera com bancos, espelhos, toalhas, pentes e, claro está, tesouras. Na transformação da carrinha em barbearia, o "quatro rodas" teve de comprar um boiler de 70 litros (aquecedor de água de acumulação elétrico), mas os clientes são muitos e a água… pouca. Assim, a solução passa por não lavar o cabelo e usar um borrifador. "As pessoas já se habituaram. Algumas, quando têm muita gente à sua frente, vão a casa lavar a cabeça", explicou. A "arte" de cortar cabelo, essa, foi herdada do pai, também barbeiro. O pai de Manuel Santos, desde cedo, quis que ele aprendesse a "arte", mas "não estava para aí virado" e só não se escapava da barbearia quando não podia. "Eu não gostava nada daquilo", relembrou. Aos 16 anos, não conseguiu escapar às investidas do pai e teve de começar a cortar o cabelo à "rapaziada mais nova", que era adepta de cortes de "pescoço limpo" (cabelo curto). Hoje, ganhou-lhe o gosto e percorre, desde 2000, uma vez por mês, dez aldeias de Chaves e três da Galiza onde conta já com uma carteira de clientes fixos. Na aldeia de Travancas, a 20 quilómetros de Chaves, as pessoas já sabem que o "quatro rodas" vem sempre à terceira quinta-feira de cada mês, às 14:00 horas e, se não puder, telefona para a junta de freguesia. Manuel Santos estaciona a barbearia no largo da aldeia onde, regra geral, já existe fila de espera. "Senhor Manuel: hoje enganei-me nas horas e vim para aqui mais cedo. Também sou a primeira e rápido vou para casa", disse Hermínia Fernandes, de 79 anos. O "quatro rodas" já se habitou aos gostos dos clientes, por isso, não perde tempo e pergunta: "Dona Hermínia não quer muito curto, pois não?". "Se o senhor Manuel não viesse cá, tínhamos de ir à cidade, pagar um táxi e a vida não está assim tão boa", desabafou. As conversas baseiam-se no Governo, nos cortes nos subsídios, no aumento dos preços, no tempo e nas colheitas. Bárbara Batista, 84 anos, aproveitou para cortar o cabelo porque o Natal está à porta e as pessoas têm de se "pôr bonitas". "Estive a escolher umas batatas e demorei-me mais um pouco, mas espero. Que remédio", atirou Fernando Silva. A barbearia do "quatro rodas" vai continuar "sobre rodas" em 2012 e, apesar da crise, fica a promessa: corte a cinco euros para jovens, homens, mulheres e, até carecas.

Fonte: RTP e Sapo Noticias

2 comentários:

Óscar Santos disse...

Parabéns ao projecto Quatro Rodas, que com a determinação e vontade do Manuel alcançou o sucesso que hoje tem! Fidalgo estimado de todos nós, que tantas vezes me cortou o cabelo!

mmendes disse...

Em primeiro lugar desejo a todos um
Feliz Ano Novo. Ha dias estando eu a ver o noticiario na RTP, Vi uma reportagem na minha propria aldeia
Qual o meu espanto a senhora que estava na cadeira a cortar o cabelo e nem mais nem menos a minha tia Herminia.
Sr. Manuel Santos Que bela ideia essa, Tambem eu admiro o seu trabalho. Sim senhor.Muita saude